A minha vida e a das pessoas à minha volta pode não ter impacto nenhum para a Humanidade, mas a história de como os meus avós maternos se conheceram é (pelo menos para mim) melhor do que muitos argumentos hollywoodescos e a prova viva de que o romance está mesmo morto.
Publico aqui esta grande história no dia em que essa grande mulher que é a minha avó faz 73 anos.
Então, estávamos nós nesse ano longínquo de 1956. Os meus avós eram colegas de trabalho numa fábrica e iam almoçar à mesma pensão, ainda que nunca o fizessem juntos, até ao dia em que a minha avó chegou à pensão e a dona lhe disse que o prato dela estava na mesa do meu avô. A minha avó, cheia de vergonha, fugiu dali e, a partir desse dia, começou a levar o almoço feito em casa para o trabalho. Passados uns dias o meu avô foi ter com ela ao canto onde ela almoçava e perguntou-lhe se a podia acompanhar até casa quando terminasse o trabalho. A minha avó respondeu que a estrada era larga e ele podia fazer o que quisesse. Assim, ao final desse dia, o meu avô estava à espera da minha avó à porta da fábrica e os dois caminharam juntos até à casa dela. A partir daí eles começaram a namorar, algo que naquela altura significava estarem juntos no caminho para casa e uma hora ao Domingo depois do terço. O primeiro beijo surgiu apenas seis meses depois de o namoro ter começado e, apesar das tentativas e das zangas por parte do meu avô, mais do que isso só aconteceu depois do casamento.
Um dos maiores entraves a esta relação surgiu quando umas das operárias da fábrica mostrou interesse no meu avô e começou a infernizar a vida da minha avó. Ela não aguentou e, passados uns meses disse ao pai que não ia trabalhar mais naquela fábrica devido à sujidade. Ele concordou e ela nunca mais apareceu lá. Antes de se ir embora, ela disse à tal mulher que podia ficar com ele e os dois podiam ser muito felizes. Mas não foi isto que parou o meu avô e, uns dias depois, ele apareceu à porta dela para lhe dizer que era ela que ele queria.
Quando a minha avó tinha 21 anos e eles já namoravam há três anos, decidiram casar-se. Os meus bisavós não gostaram muito da ideia e não a apoiaram. Não foi isso que a parou. Com um vestido barato, casou-se com o meu avô. Os pais cumpriram a promessa e não lhe ofereceram qualquer tipo de ajuda.
Os dois tiveram quatro filhas e nove netos. O casamento durou 46 anos até que o meu avô morreu de cancro em 2005. Durante o seu último ano de vida, ele fez tudo para dar à minha avó o que não tinha conseguido nos anos anteriores. Os dois passaram a almoçar fora todos os dias e a passear por todo o lado. Nas últimas estadias do meu avô ao hospital, a minha avó nunca deixou de o visitar todos os dias, mesmo quando estava internado a quase 40 quilómetros de distância. Quando ele foi transferido para o hospital da nossa vila, ela passava todos os dias ao lado dele até ele morrer.
Agora visita sempre que pode a campa dele e conta-lhe todas as novidades da família e pede-lhe para ajudar as filhas e os netos.
Pode não ser uma história excêntrica, mas representa toda a educação que me foi dada e o ambiente em que cresci.