Os Óscares são já este Domingo e todas as previsões apontam para que "O Artista" seja o grande vencedor da noite, no entanto os restantes concorrentes à estatueta não merecem menos destaque. Fiquem com o meu ranking dos filmes nomeados na categoria de melhor filme da 84ª cerimónia dos Óscares.
1º - Meia-Noite em Paris
Gil: Adriana, if you stay here though, and this becomes your present then pretty soon you'll start imagining another time was really your... You know, was really the golden time. Yeah, that's what the present is. It's a little unsatisfying because life's a little unsatisfying.
Woody Allen regressou em força com "Meia-Noite em Paris". O filme segue a viagem de um argumentista de Hollywood com a noiva e os futuros sogros a Paris e a sua tentativa de escrever um livro que seja mais relevante do que os seus filmes. Durante o dia a viagem é dedicada a toda a rotina que surge com as férias: visitas aos locais mais icónicos da cidade (acompanhadas pelo brilhante personagem pseudo-intelectual que discute com guias turísticos), almoços e compras. Porém, durante um passeio nocturno, Gil, o argumentista e eterno sonhador apaixonado por Paris, descobre que num determinado local da cidade pode apanhar uma boleia para os anos vinte ao bater da meia-noite. A partir daqui o filme divide-se entre o surrealismo da noite onde Gil conhece e faz amizade com Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Picasso e Dalí e a realidade do dia onde as personalidades diferentes o vão afastando casa vez mais da noiva.
As personagens bem construídas, o argumento brilhante e as interpretações fazem deste o melhor filme de Woody Allen dos últimos anos e é, na minha opinião, o filme que mais merece o Óscar entre os nomeados. Talvez num universo alternativo Woody Allen esteja a escrever um discurso de vitória.
2º - A Invenção de Hugo
Georges Méliès: My friends, I address you all tonight as you truly are; wizards, mermaids, travelers, adventurers, magicians... Come and dream with me.
A lista de nomeados deste ano conta com contribuições de alguns dos mais conhecidos e respeitados cineastas da actualidade. "A Invenção de Hugo" tem a assinatura de Martin Scorsese e apresenta-se como uma homenagem ao cinema, aos sonhos e à imaginação. Baseado no livro de Brian Selznick, este filme apela tanto a crianças como a adultos. Ao primeiros grupo, pela aventura que os dois protagonistas vivem para desvendar a mensagem que o pai de Hugo lhe terá deixado através de um autómato e ao segundo pela redescoberta dos sonhos de infância e da mensagem de que nunca é tarde para os viver.
Tudo resulta neste filme. Os cenários e as cores aliam-se para criar um espectáculo visual esplêndido e a história faz com que o filme tenha um sentimento clássico e nostálgico que se alia à modernidade do 3d e dos efeitos visuais.
3º - O Artista
George Valentin: I won't talk! I won't say a word!
O indiscutível campeão das cerimónias de prémios deste ano é, à semelhança de "A Invenção de Hugo" uma homenagem ás origens do cinema. Enquanto que "Hugo" faz uma homenagem a Georges Méliès, "O Artista" celebra a época do cinema mudo. O filme consegue o feito de pegar numa técnica há muito posta de lado e contar uma história que é fresca e nos deixa presos ao ecrã até ao fim. O crédito tem de ser dado à banda sonora, que captura na perfeição todas as emoções, e ás interpretações.
4º - Os Descendentes
Matt King: Elizabeth is dying. Oh, wait... Fuck you! And she's dying.
A entrada anual de George Clooney apresenta-se este ano sob a forma de um filme independente passado no Havai. Clooney faz o papel de Matt King, um dos descendentes de uma espécie de família real havaiana que está prestes a vender a sua herança: alguns dos poucos terrenos havaianos que ainda não foram usados para a construção. No entanto o filme centra-se na forma como ele e as suas duas filhas reagem à morte eminente da sua mulher que entrou em coma após um acidente de barco. O próprio descreve-se como pai suplente e admite que não faz ideia de como vai educar as filhas problemáticas, a mais velha uma alcoólica adolescente em recuperação e a mais nova com problemas de comportamento e relacionamento na escola. Como se não bastasse, Matt ainda descobre que a mulher o estava a trair e que estava até a considerar pedir o divórcio.
As representações são magnificas e a exclusão de Shailene Woodley das nomeações continua a ser um dos maiores mistérios desta edição dos prémios da Academia. O filme consegue ainda ser o mais original possível e, ainda que a história da família disfuncional não seja nenhuma novidade, consegue mostrar uma nova perspectiva que tem um sentimento bastante verídico.
5º - As Serviçais
Aibileen Clark: God says we need to love our enemies. It hard to do. But it can start by telling the truth. No one had ever asked me what it feel like to be me. Once I told the truth about that, I felt free. And I got to thinking about all the people I know. And the things I seen and done. My boy Treelore always said we gonna have a writer in the family one day. I guess it's gonna be me.
Ainda que a questão da discriminação dos negros no Sul dos Estados Unidos no século passado seja um assunto constantemente presente em debates e na própria sociedade americana, a verdade é que não é assim tão fácil encontrar um filme que tenha este tema como assunto central. A maioria dos filmes abordam o tema racial relegan-no para segundo plano ou como meio para um fim e ainda que "As Serviçais" não mergulhe nas questões mais profundas do racismo vivido nos anos 60, faz algo que é surpreendentemente raro em Hollywood: faz duas criadas negras as suas protagonistas e dá-lhes uma voz, faz delas heroínas sem as vitimizar demasiado ao mesmo tempo que vai mantendo um tom cómico saudável. As interpretações de Viola Davis e Octavia Spencer são incríveis e o filme só peca por poder passar por um manifesto feminista quando na realidade é apenas um retrato bastante realista das condições precárias de seres humanos que foram relegados para segundo plano apenas com base na cor da sua pele.
6º - A Árvore da Vida
Mrs. O' Brien: The nuns taught us there are two ways through life … the way of Nature… and the way of Grace. You have to choose which one you'll follow.
Grace doesn't try to please itself. Accepts being slighted, forgotten, disliked. Accepts insults and injuries.
Nature only wants to please itself. Get others to please it too. Likes to lord it over them. To have its own way. It finds reasons to be unhappy... when all the world is shining around it... when love is smiling through all things.
"A Árvore da Vida" é o filme mais ambíguo da lista de nomeados. Não tem uma história clara e a interpretação da sua mensagem, se é que existe uma, fica a cargo dos espectadores. Pode-se descrever o filme como uma espécie de frase com espaços para completar: são apresentados vislumbres da vida de uma família, desde o momento do nascimento dos filhos até à vida actual de um deles ao mesmo tempo que nos é mostrado o nascimento do nosso planeta. Não existe uma narrativa convencional, mas este pode muito bem ser um dos filmes mais pessoais e individuais dos últimos tempos visto que é difícil encontrar alguém que tenha a mesma opinião em relação a ele. Também importa destacar o brilhante trabalho de fotografia e montagem, para além das interpretações maginificas de Jessica Chastain, Brad Pitt e Sean Penn.
7º - Cavalo de Guerra
Rose Narracott: I might hate you more, but I'll never love you less.
Tem de ser dado crédito a Steven Spielberg por ter conseguido criar um filme sobre a Primeira Guerra Mundial com um cavalo como protagonista que não faz uma pessoa revirar os olhos sempre que o animal aparece. A ideia de pedir aos espectadores para investir emocionalmente num cavalo quando à sua volta estão a morrer centenas de seres humanos parecia algo fora de alcance para alguém que não é membro activo da PETA, mas o facto é que tal é possível. Isto porque, ainda que não haja dúvidas de que o cavalo é a figura central do filme, os horrores vividos na guerra não são esquecidos e desengane-se também quem pensa que "Cavalo de Guerra" não passa de um filme de família. Ainda que tenha o sentimento clássico de filmes paralelos dos anos 90, algumas cenas são bastante pesadas.
Destaca-se ainda a recreação bastante realista, não só do ambiente da Primeira Guerra Mundial, mas também da vida campestre inglesa do início do século XX com guarda-roupa e cenários bastante bem conseguidos.
8º - Moneyball - Jogada de Risco
Billy Beane: Would you rather get one shot in the head or five in the chest and bleed to death?
Peter Brand: Are those my only two options?
Os americanos adoram baseball, isso já todos sabemos. Os filmes sobre o "passatempo da América" surgem com frequência e têm todos praticamente a mesma receita que costuma incluir uma dose pouco saudável de patriotismo e discursos inspiradores. "Moneyball" ganha pontos por escapar um pouco à norma e tem até uma mensagem que vai contra a norma americana de materialismo, ainda que a ganância e a sede de vencer surjam de vez em quando. A história é baseada em factos reais e segue o trajecto de uma equipa de sucesso moderado que tenta vencer o maior número de jogos possível com um orçamento bastante mais modesto do que o das maiores equipas do campeonato. Para tal, Billy Beanne contrata Peter Brand, um recém-licenciado que cria um sistema revolucionário de selecção de jogadores baseado em cálculos. Com Aaron Sorkin entre os argumentistas, não se podia esperar nada abaixo de genial no que toca à escrita e é exactamente isso que acontece. Ainda que o baseball nos passe completamente ao lado, as personagens estão muito bem construídas e os momentos de humor são impecáveis. Destaco ainda as interpretações de Brad Pitt (que merecia, na minha opinião o Óscar de Melhor Actor) e de Jonah Hill.
No entanto não deixa de ser, a vários níveis, um filme típico de desporto que apela muito mais aos fãs do que ao espectador comum.
9º - Extremamente Alto, Incrivelmente Perto
Oskar Schell: I didn't know what was waiting for me. Although my stomach hurt and my eyes were watering I'd made up my mind that nothing was gonna stop me. Not even me.
Se os nomeados ao Óscar de Melhor Filme de este ano fossem uma daquelas perguntas de identificar quem está a mais, "Extremamente Alto, Incrivelmente Perto" seria o escolhido. Muitos acusaram o filme de ser um "engodo para os Óscares" e é o detentor do título de filme com piores críticas a ser nomeado para o Óscar. À excepção de poucas cenas mais para o final, é um filme que falha a vários níveis. Primeiro pela forma como o tema do 11 de Setembro é abordado. Ainda que o resto do mundo não sinta que esse tema é tão intocável como os americanos, a maneira como esse dia é usado como pano de fundo e até justificação para algumas atitudes chega a ser revoltante. Em segundo lugar temos um protagonista que, à excepção das tais cenas quase no final do filme, não cria qualquer sentimento de empatia. O facto de Max Von Sydow estar nomeado para Melhor Actor Secundário só vem provar que os argumentistas podem descansar e os actores não precisam de esforçar a voz para conseguir chegar ao Kodak Theatre.
Podia continuar, mas ninguém consegue expressar melhor a maior falha deste filme do que o eterno Michael Palin:
Exciting? No it's not. It's dull. Dull. Dull. My God it's dull, it's so desperately dull and tedious and stuffy and boring and des-per-ate-ly DULL.
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